sábado, 1 de marzo de 2025

HOMILIA CATEQUÉTICA Na abertura da Santa e Grande Quaresma

 



HOMILIA CATEQUÉTICA

Na abertura da Santa e Grande Quaresma

 

BARTOLOMEU

Pela misericórdia de Deus Arcebispo de Constantinopla-Nova Roma

e Patriarca Ecumênico

à Plenitude da Igreja

que a Graça e a Paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,

juntamente com a nossa Oração, Bênção e Perdão
estejam com todos vós

 

Honorabilíssimos irmãos Hierarcas e filhos abençoados no Senhor,

 

Mais uma vez, pela vontade e graça de Deus, o doador de todos os bens, estamos entrando na Santa e Grande Quaresma, o bendito período de jejum e arrependimento, de vigília espiritual e jornada com o Senhor, enquanto Ele se dirige à Sua paixão voluntária, para que possamos chegar à veneração da Sua gloriosa Ressurreição e nos tornarmos dignos da nossa própria passagem das coisas terrenas para “aquilo que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu” (1 Cor 2,9). 

Na Igreja primitiva, a Santa e Grande Quaresma era um período de preparação dos catecúmenos, cujo batismo ocorria durante a Divina Liturgia da Festa Pascal. Essa conexão com o batismo também é preservada pela compreensão e experiência da Grande Quaresma como o período por excelência do arrependimento, descrito como “uma renovação do batismo”, “um segundo batismo”, “um aliança com Deus para uma segunda vida”, ou seja, uma regeneração dos dons do batismo e uma promessa a Deus para o início de um novo modo de vida. Os ofícios e hinos litúrgicos deste tempo associam a luta espiritual dos fiéis à expectativa da Páscoa do Senhor, de modo que o jejum de quarenta dias irradia o perfume da alegria pascal. 

A Santa e Grande Quaresma é uma oportunidade para tomarmos consciência da profundidade e riqueza da nossa fé como “um encontro pessoal com Cristo”. É corretamente enfatizado que o cristianismo é “extremamente pessoal”, sem que isso implique que seja “individualista”. Os fiéis “encontram, reconhecem e amam o mesmo Cristo”, que, “sozinho e somente Ele, revelou a verdadeira e perfeita pessoa humana” (Nicolau Cabasilas). Ele convida todas as pessoas — e cada uma individualmente — à salvação, de modo que a resposta de cada um seja sempre “fundamentada na fé comum” e, ao mesmo tempo, “única”. 

Recordamos as palavras de São Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2: 20). Neste caso, as palavras “em mim”, “mim” e “por mim” não contradizem as palavras “em nós”, “nós” e “por nós”, em referência à nossa “salvação comum”. Eternamente grato pelos dons celestiais de sua regeneração em Cristo, o Apóstolo da liberdade “torna seu o que é compartilhado”, como se o Verbo pré-eterno de Deus tivesse se encarnado, sido crucificado e ressuscitado “por ele pessoalmente”. 

Nossa experiência de fé é “única” e “profundamente pessoal” como uma liberdade dada a nós por Cristo, algo que é, ao mesmo tempo, “essencialmente eclesial”, uma experiência “de liberdade comum”. Essa liberdade mais genuína em Cristo se expressa como amor e apoio concreto ao próximo, como descrito na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10: 30-37) e na passagem sobre o Juízo Final (Mt 25: 31-46), mas também como respeito e cuidado pelo mundo e uma abordagem eucarística da criação. A liberdade em Cristo tem uma natureza pessoal e holística, que é especialmente revelada durante a Santa e Grande Quaresma em sua compreensão da ascese e do jejum. A liberdade cristã, como autenticidade e plenitude existenciais, não envolve uma ascese sombria, uma vida sem graça e alegria, “como se Cristo nunca tivesse vindo”. Além disso, o jejum não é apenas “abstinência de alimentos”, mas “renúncia ao pecado”, uma luta contra o egoísmo, um amoroso afastamento de si mesmo para o irmão necessitado, “um coração que arde por toda a criação”. A natureza holística da espiritualidade é sustentada pela experiência da Grande Quaresma como uma jornada rumo à Páscoa e como um antegozo da “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8: 21). 

Oramos para que nosso Salvador Jesus Cristo nos torne dignos de percorrer o caminho da Santa e Grande Quaresma com ascese, arrependimento, perdão, oração e liberdade divina. E concluímos com as palavras do nosso pai espiritual, o falecido Metropolita Meliton de Calcedônia, durante a Divina Liturgia do Domingo do Perdão em 1970, na Catedral Metropolitana de Atenas: 

“Ao entrarmos na Santa Quaresma, o que nos espera no final é a visão, o milagre e a experiência da Ressurreição, a experiência primordial da Igreja Ortodoxa. Avancemos rumo a essa visão e experiência, mas não sem ter recebido e oferecido o perdão, não com um jejum meramente de carne e óleo, não com um senso de hipocrisia, mas com liberdade divina, em espírito e verdade, no espírito da verdade, na verdade do espírito.”

 

Santa e Grande Quaresma 2025

 

BARTOLOMEU de Constantinopla

Vosso fervoroso suplicante diante de Deus.