PROTOCOLO Nº 118
DISCURSO CATEQUÉTICO PARA O INÍCIO DO TEMPO DA SANTA E GRANDE QUARESMA
† BARTOLOMEU PELA GRAÇA DE DEUS ARCEBISPO DE CONSTANTINOPLA-NOVA ROMA E PATRIARCA ECUMÊNICO
A TODA A PLENITUDE DA IGREJA A GRAÇA E A PAZ DE NOSSO SENHOR E SALVADOR JESUS CRISTO E, DE NOSSA PARTE, ORAÇÃO, BÊNÇÃO E PERDÃO.
Amados irmãos e Filhos abençoados no Senhor,
Pela graça e misericórdia de Deus, entraremos, a partir de amanhã, no tempo da Santa e Grande Quaresma, período apropriado para a conversão da alma humana, da nossa própria alma ao Senhor.
É este um tempo de permanente recolhimento diante do mistério de Deus que se desdobra dia a dia, isto é, ante o próprio mistério da salvação do gênero humano. E, sendo a oportunidade em que se oferece o santo jejum, este período se reveste de uma característica toda particular: o arrependimento e a sobriedade da alma que, especialmente neste tempo cheio de santos propósitos, é chamada à santidade, a tomar consciência das coisas transitórias e temporais, avançando gradualmente para as mais elevadas, superiores e espirituais.
André de Creta, no Grande Cânone de sua autoria, fala de modo pertinente e sintético, a si próprio e a toda alma atormentada pelas tentações e preocupações desta vida presente. O santo, consciente do peso da alma humana ferida pelo pecado, clama em agonia: «Alma minha, alma minha, por que dormes?». Este clamor conduz à tomada de consciência da futilidade e do indescritível temor pelo final da vida nesta terra: o fim está próximo, e serás (alma minha) presa da perturbação. Ante o fim inesperado da vida que se aproxima como um ladrão na noite, o Luminar de Creta chama a si mesmo e a toda alma ferida e perpassada pelo medo e pela insegurança: «Arrepende-te, pois, a fim de que, o Cristo, presente em toda parte e que tudo plenifica, tenha piedade de ti».
Durante este tempo de penitência que se abre diante de nós, o ensinamento e a voz patrística ortodoxa nos chama a cada um de nós a tomar consciência de «quem somos, onde estamos e para onde vamos», isto é, para onde espiritualmente nos dirigimos; a perceber a frivolidade desta vida efêmera e a nos arrepender de todas as transgressões praticadas, «em consciência e/ou ignorância, voluntária e/ou involuntariamente, por palavras e/ou ações, em todos os sentidos»; a nos arrepender de não ter agido de acordo com o Evangelho e a lei da graça do Cristo, mas segundo a nossa própria vontade. Só então encontraremos a misericórdia e a graça d’Aquele que «perscruta as profundezas dos corações humanos, e conhece todos os seus pensamentos e segredos; e não nos serão imputados os pensamentos que nos levaram a realizar obras vãs e inúteis.
A luta que se abre diante de nós é medida de acordo com a nossa capacidade de sobriedade e de arrependimento, isto é, de nossa metanoia. Através da metanoia, ou seja, de uma clara consciência de nosso estado, e por meio da confissão, nossa vida é coroada com a remissão dos pecados, a comunhão do Espírito Santo e a plenitude do reino dos céus». O arrependimento se identifica com a consciência da pessoa que se converte (Cf. 2 Cor 1,12 e Rm 2,15). A consciência é um dom de Deus.
Irmãos e filhos no Senhor,
Como cristãos ortodoxos, somos chamados a viver este período da Santa e Grande Quaresma como um tempo de sobriedade, de consciência e de arrependimento, como um momento de eternidade de nossa identidade ortodoxa. Quer dizer, somos chamados a viver e a conviver com Cristo, viver eclesiológica e espiritualmente. Pois que, somente na vida em Cristo nossa consciência pode chegar ao arrependimento e a nos elevar ao lugar da verdadeira e real liberdade e dos juízos infalíveis de nosso repouso e de nossa redenção.
Durante o início deste período bendito, o Patriarca Ecumênico e a Santa e Grande Igreja de Cristo visitam a cada a alma cristã ortodoxa, sobrecarregada e desconsolada pelo fardo dos valores, prazeres e gozos da carne e deste mundo, que caminham e oram juntos ao «Rei dos reis e Senhor dos senhores, que vem para sacrificar-se e oferecer-se como alimento aos fiéis»: torna-nos dignos, ó Senhor, a todos os fiéis ortodoxos, da paz e da contrição de coração, para que atravessemos este período santo que se inicia «sendo a todos gratos, de modo que, após terminar valorosamente a corrida, cheguemos ao soberano dia da tua ressurreição e, com alegria, portando a coroa da glória, te louvemos sem cessar» (Poema de Teodoro, Triodion).
Abençoando-vos paternalmente, filhos amados e fiéis da Igreja-Mãe, unidos convosco em oração e súplica, invocamos sobre todos a potência da Venerável e Vivificante Cruz, das intercessões da Virgem Mãe de Deus, dos santos Anjos e de todos os Santos, para que todos sejamos dignos de nossa vocação e vida ortodoxa, e desfrutemos, da mesma forma, das delícias e da glória da ressurreição do Senhor, a quem pertence toda glória, honra, poder e ação de graças, pelos séculos dos séculos. Amém.
Santa e Grande Quaresma de 2017
† Bartolomeu de Constantinopla
Fervoroso suplicante diante de Deus, por todos vós.
Tradução para o portugués: Hieromonges André e Pavlos